Foto: Kiko Sierich |
Há mais de 40 anos na profissão, histórias de grandes feitos e reportagens arriscadas e históricas é que não faltam no currículo do jornalista Domingos Meirelles. Ontem à noite, ele foi a grande atração no auditório do Salão Internacional do Livro ao falar sobre a passagem da Coluna Prestes pelo Paraná e como a história o envolveu numa narrativa que já reúne dois exemplares.
Os dois livros sobre o tema; o primeiro "As noites das grandes fogueiras" e "1930 – os órfãos da Revolução", Domingos traz um trabalho atento e minucioso de mais de 30 anos de trabalho e revela o importante papel de Foz do Iguaçu numa das mais dramáticas histórias narradas no país. "O livro, na verdade permite que boa parte da população, não somente de Foz como do Paraná, tome conhecimento de que o estado foi cenário de uma das batalhas mais dramáticas da história da Coluna Prestes".
Meirelles ainda revela que na batalha na Serra do Medeiros em Catanduvas, o reconhecimento deverá ser lembrado através de um memorial, já em discussão para a aprovação em Brasília. O local foi cenário para a formação de uma linha de trincheiras como a primeira linha de proteção e defesa do Estado Maior da Coluna que estava reunido em Foz.
Da cidade, o jornalista também resgatou história de jovens oficiais da antiga Força Pública de São Paulo, do Exército Brasileiro, jovens tenentes e capitães que aguardavam a chegada de uma segunda coluna vinda do Rio Grande do Sul, comandada por Prestes.
"Quando essa coluna chega em outubro de 1924, provoca perplexidade, pois imaginavam que iria chegar uma grande tropa do sul e na verdade chegou meia dúzia de gatos pingados", relata.
Mesmo com a decepção, Domingos revela que o período de espera pela coluna foi fundamental para a história de Foz do Iguaçu. "Para que soldados não ficassem incomodando as famílias, ou descendo para o Paraguai ou Argentina e tomando pileques, eles botaram essa tropa para trabalhar e implantaram o primeiro projeto piloto de um plano urbanístico da cidade. Abriram ruas, avenidas e estradas, então tiveram participação muito importante para o povo de Foz".
Para Meirelles o resgate da história é como um pedido de reconciliação com a cidade. "É história dramática e pouco conhecida e não somente aqui no Paraná. Essa marcha revolucionária que tanto comoveu o Brasil entre 1924 e 1927, é uma coisa que os americanos dizem; ‘nós gostaríamos de ter e vocês têm, e mantém escondido embaixo do tapete’ ".
No período de duração, os oficiais vagaram durante dois anos e meio pelo interior do país, em companhia de uma legião de civis, impulsionados pelo sonho de transformar o país numa grande nação. A marcha percorreu 36 mil quilômetros em 12 estados, boa parte do trajeto percorrida a pé, com os rebeldes perseguidos por tropas do governo.
Em seu segundo livro, o jornalista trata da ida desses jovens para Bolívia e depois para Argentina onde conspiram e retornam clandestinamente ao país para depor o então presidente Washington Luiz.
Foz - A relação com a cidade não está presente somente na história resgatada por Meirelles. O jornalista relata que a cidade foi cenário para grandes reportagens que o consagraram como repórter. "Grandes matérias foram feitas aqui, a minha história profissional está ligada à cidade, que me deram projeção. Essa é forma de retribuir e compensar. Tinha gente que me odiava e dizia que só vinha para falar mal da cidade. Eu falava que um dia voltaria para falar bem, e voltei".
Daniela Valiente - A Gazeta
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